Sinopse: Certa manhã, um homem acorda no chão de uma estação de trem, sem saber como foi parar ali. Não faz ideia de onde mora nem o que faz para viver. Não lembra sequer o próprio nome. Quando se convence de que é um morador de rua que sofre de alcoolismo, uma matéria no jornal sobre o lançamento de um satélite chama sua atenção e o faz desconfiar de que sua situação não é o que parece.
O ano é 1958 e os Estados Unidos estão prestes a lançar seu primeiro satélite, numa tentativa desesperada de se equiparar à União Soviética, com seu Sputnik, e recuperar a liderança na corrida espacial.
À medida que Luke remonta a história da própria vida e junta as peças do que está por trás de sua amnésia, percebe que seu destino está ligado ao foguete que será disparado dali a algumas horas em Cabo Canaveral.
Ao mesmo tempo, descobre segredos muito bem guardados sobre sua esposa, seu melhor amigo e a mulher que ele um dia amou mais que tudo. Em meio a mentiras, traição e a ameaça real de controle da mente, Luke precisa correr contra o tempo para conter a onda de destruição que se aproxima a cada segundo.
“Pior do que isso: estava aterrorizado. O coração batia forte, a respiração saía ofegante e o corpo estava rígido. Era como um pesadelo, só que o despertar não havia trazido nenhum alívio. Sentia que algo pavoroso tinha acontecido, mas não fazia ideia do que podia ser.”
Era uma manhã gelada de janeiro de 1958 quando ele acordou deitado no chão de um banheiro sujo. Sua mente não recordava de nada, nem sequer de seu próprio nome. Logo, apareceu ao seu lado, como em um passe de mágica, um outro homem, que declarou se chamar pete, e o chamou de Luke, e o informou que ele havia passado por uma grande bebedeira na noite anterior. Após segundos de hesitação e após se ver no espelho, uma imagem desgrenhada, suja e degradante, Luke resolveu acreditar na história que havia lhe sido contada, embora tudo lhe soava muito estranho. Ao começar andar pela cidade, ainda perdido e tentando entender se a rua era o seu habitat natural ou se ele morava em algum lugar, percebeu que estava sendo vigiado de perto, e, ao tentar se livrar dos perseguidores, surgiram em sua mente técnicas de fuga e de luta, como se ele fosse um agente secreto. Após horas de tensão, nas quais deu voltas e estratégias para se livrar de seus perseguidores, Luke se depara com uma banca de jornal, que declara em manchetes enormes o grande acontecimento do mês, ou até mesmo da década: o lançamento de um foguete pelos estados unidos, o que seria um grande passo na disputa daquela guerra fria entre aquela potência e a Rússia.
“Caminhou pela avenida de olmos ingleses respirando o ar frio e puro, confortado pelas árvores antigas e pela presença da água. A manhã tivera alguns momentos ruins, mas ele resistira, contando uma mentira diferente para cada participante do jogo.
Embora incrédulo e sem acreditar, quanto mais Luke junta às peças, percebe que embora esteja em Washington, o seu lugar naquele dia deveria ser Cabo Canaveral, na Flórida, o lugar de lançamento do tal foguete, pois sua intuição dizia que ele tinha algo muito pessoal à ver com aquilo. à medida que o dia passa, peças do quebra-cabeças vão sendo descobertas e engrenagens vão sendo giradas, Luke percebe que há alguém querendo tirá-lo do caminho a todo custo, e que essa eliminação súbita dele também teria a ver com o sucesso ou fracasso do lançamento do foguete, e então, ao pedir ajuda de amigos e velhas pessoas com quem ele se relacionava há muitos anos, Luke percebe que as pessoas nem sempre falam a verdade, que nossos maiores amigos podem também ser nossos piores inimigos, e que aqueles a quem mais amamos podem tomar atitudes das quais não sentimos orgulho.
“Se conseguisse encontrar Luke, ainda poderia consertar as coisas. Mas precisaria tomar medidas drásticas. Não seria mais suficiente simplesmente vigiá-lo. Precisaria resolver o problema de uma vez por todas.”
Em ritmo alucinante, no qual não conseguimos desgrudar um só minuto das páginas, Ken Follett constrói um thriler fascinante que traz como pano de fundo a guerra fria e também explora com magistralidade o amor, o ódio, a amargura, os traumas e todos os demais sentimentos humanos e voláteis.
“– A guerra me ensinou que nada é tão importante quanto a lealdade.
– Que besteira. Você ainda não aprendeu que, quando as pessoas estão sob pressão, todas estão dispostas a mentir.
– Até para quem elas amam?
– Mais ainda para quem amam, porque se importam demais com essas pessoas. Por que você acha que dizemos a verdade aos sacerdotes, psiquiatras e estranhos que conhecemos no trem? Porque nós não os amamos, por isso não nos importamos com o que eles porventura pensem.”
Ler Ken Follett é sempre uma experiência única e fascinante, da qual saímos com muito à dizer, mas sem saber muito bem quais palavras usar para descrever a grandiosidade dos nossos sentimentos ou a genialidade do livro que acabamos de ler. E, certamente, com Contagem regressiva, um título pelo qual eu estava ansiosa, não foi diferente. Comecei despretensiosamente a leitura no início de uma manhã, e terminei, por mais impossível que possa parecer, logo após o almoço, o que computou umas sete horas de leitura interruptas, nas quais eu pensava: “só vou ler mais um pouquinho, preciso saber o que está acontecendo”, até que me vi no grande final, cheia de vontade de começar tudo de novo, só para me sentir tão empolgada outra vez.
Esse livro, como vários outros que já li do autor, tem alguns elementos familiares, mas que combinados dentro do pano de fundo escolhido para o momento, formam um quebra-cabeças especial e estimulantes, e durante a leitura, me senti como se estivesse dentro de um carro em alta velocidade, com um motorista meio maluco na direção, mas que ao mesmo tempo sabe o que está fazendo, e que faz curvas, dá freadas e aceleradas inesperadamente e nos chacoalha tanto que ficamos meio confusos com as voltas, mas ainda assim, ao final da viagem estamos completamente apaixonados por como tudo terminou. Dito isso, preciso ressaltar que este, além de ser um thriler, carregado no suspense e cheio de tramas de perseguição e segredos, é também um belo livro histórico, que fala de forma muito dinâmica e clara sobre o processo de lançamento do primeiro foguete dos EUA durante a guerra fria, e de todo o esquema por traz disso, pois tudo teve de ser muito bem arquitetado para nada dar errado e se transformar em um grande fracasso novamente, e, apesar de todos sermos humanos e podermos errar em pesquisas, achei o que Ken Follett nos apresentou muito bem feito e coerente, e acredito que tudo nesse livro é muito bem fundamentado.
Embora haja vários pontos muito positivos que eu posso realçar, começo a destacá-los pelo fato de que a mescla de gêneros, envolvendo thriler, história e romance é sempre fascinante, e faz com que nos envolvamos intensamente com o livro, à medida que o autor nos apresenta conflitos de dimensões mundiais e conflitos de dimensões pessoais que se misturam e formam algo fascinante. Além disso, Ken Follett escreve em um ritmo ágil, que faz com que nos sintamos lá no próprio cenário que está sendo descrito, o que ele também faz maravilhosamente bem, e entramos no ritmo dos personagens, ficando sem fôlego, com medo e com um frio na barriga, diante de cada cena que se desenrola dentro das páginas.
Já para os adeptos de romance, o autor também não deixa a desejar nesse ponto, e traz uma trama romântica e meio dramática digna de troféu, e embora esse não seja o principal objetivo do livro, é uma linha que corre durante toda a obra, e que dá um charme a mais, à medida que descobrimos uma teia de segredos, mentiras, desencontros e partidas, nas quais atitudes que são direcionadas à uma só pessoa podem afetar um país inteiro.
Não consigo determinar muito bem pontos que poderiam ser negativos nesse autor e nesse livro, e embora esse não seja o meu favorito dentre os que ele escreveu, ele é impecável. Mas, talvez para leitores que não se interessam por essa pegada mais histórica, bem como o ritmo de thriler, talvez esse possa ser um livro desagradável, embora acho que Follett ultrapassa todas as barreiras e é um autor único e sensacional que merece ao menos uma chance sempre.
Os personagens são completamente bem construídos, e cada um possui mil facetas, o que acaba nos confundindo e eu não conseguia mais saber quem era efetivamente bom, quem era efetivamente mau, e por vezes eu gritava mentalmente: “não confie nessa pessoa!”, até ver que era exatamente naquela pessoa que o protagonista deveria confiar e vice-versa. E, falando em Luke, o protagonista, ele é um homem que consegue nos conquistar já nas primeiras páginas, o que faz com que fiquemos torcendo fortemente por ele durante todo o livro, e confesso que criei um desejo de protegê-lo. Além de Luke, temos alguns outros personagens interessantes no livro que fazem parte do grupo de amigos de Luke da época da faculdade e que agora, vinte anos depois, ainda mantém relações, e um deles é Anthony, um homem poderoso, ousado e que em alguns momentos nos faz sentir raiva, e em outros afeto. Há ainda Bern, o terceiro amigo que achei bem apagadinho, apesar de depois ele ter alguns papéis relevantes no enredo, e as mulheres, Elspeth, que foi alguém que me pareceu muito instável desde o começo do livro, e Billie, uma personagem que inicialmente tive uma impressão de que seria alguém até mesmo fútil, mas que me surpreendeu muito mais do que eu esperava.
O livro é dividido por horários, que mudam em intervalos de mais ou menos uma hora, e as vezes os intervalos são maiores, e o autor nos descreve o que está acontecendo em cada hora. A trama se passa em apenas dois dias, o que colabora para esse ritmo completamente ágil que é impresso em cada página. Além disso, a narração é feita em primeira pessoa, e além de encontrarmos narrativas sobre os dois dias de janeiro que antecedem o lançamento do foguete, também encontramos cenas da segunda guerra mundial, de 1941 em diante, e também dos anos 1950, o que serve para explicar como começaram algumas relações e ligações que se estendem até o presente dos personagens. Ainda, vale ressaltar que Contagem regressiva foi, no passado, lançado pela editora Rocco, intitulado de Código explosivo, e em 2018 foi relançado pela editora Arqueiro com nova capa e tradução, sendo esta segunda a versão que eu li.