[Resenha] Gilda, La abanderada de la bailanta – Por Alejandro Margulis

TÍTULO

Gilda, la abanderada de la bailanta

Autor (a)

Alejandro Margulis

Páginas

200

Editora

Planeta

Sinopse: A protagonista desta história é a famosa cantora “bailantera” Gilda – Miriam Alejandra Bianchi -, que morreu tragicamente aos 34 anos, quando começava a ser considerada uma santa na Argentina, no Chile, na Bolívia e no Peru. Uma mulher de classe média que queria cantar músicas melódicas, admiradora de Dyango, chegou a “bailanta” aos 33 anos e aceitou musicalizar suas letras, com um forte tom de revindicação dos direitos das mulheres e em contraste com o machismo típico de bailanta, no ritmo da cumbia, desejando exercer sua vocação secreta. Sua história é então dramática e contraditória desde a identidade de origem. Alejandro Margulis escreveu uma história atraente e emocionante. Pela primeira vez, o primeiro marido de Gilda, Raúl Cagnin, dá sua versão pessoal, descrevendo o namoro e depois a vida conjugal cheia de dificuldades que a vocação da artista conseguiu superar. Em meio ao movimento tropical que assolou a Argentina, a Bolívia e o Peru desde a década de 1990, Gilda se distinguiu em sua luta para se alçar sem abandonar seus filhos, em um mundo de preconceitos misóginos e mesquinos. Seus diários secretos também são reproduzidos, em que ela deixou um legado espiritual e vital para seus fãs em toda a América Latina. Antes de morrer, Gilda disse que queria ser lembrada como “a defensora da bailanta”. Este livro realiza o desejo final da cantora transformada em santa.

Diretamente da Argentina para o Galáxia de Ideias. Sem resumo por um simples motivo: resumir um achado tão fantástico seria impossível.

É a história de uma mulher que, enfrentando a misoginia, a mesquinharia e o machismo do mundo musical tropical, chegou até onde nem mesmo a mais consagrada das cantoras argentinas foi: a própria santidade, outorgada pelos fãs quando a própria Gilda não se considerava santa. Fãs que mandam rezar missas, acendem velas, fazem pedidos e promessas, tentando alcançar graças. E quando conseguem, enchem o túmulo e o santuário da cantora de placas, ex-votos, terços, fotos, santinhos. Um fenômeno ainda hoje firme e forte que nem o melhor dos sociólogos se torna capaz de realmente explicar mesmo negando a santidade da cantora. Os mesmos com certeza negam também a santidade da Defunta Correa e pasmem, Evita Perón. Descontando os muitos outros santos consagrados pelo povo existentes mundo afora, incluindo o próprio Brasil, com seu tão comentado sincretismo religioso.

“Shyll pisa pela primeira vez o Dock Sud aos trinta e um anos de idade.
As únicas divas da bailanta são Lía Crucet e Gladys, A Bomba Tucumana, duas mulheres voluptuosas até não poder mais que monopolizaram a atenção e as carteiras dos amantes do gênero.

Shyll engole o medo ao ver onde está se metendo.
Vai ao encontro de um futuro melhor para ela e sua família; e o que a espera é a morte, a santidade e a fama.” – Pág. 11

(Essa e outras quotes, que ficarão para o próximo post em razão deste ter ficado grande, além da sinopse, foram traduzidas por mim diretamente do espanhol.)

Uma história que começou em 11 de outubro de 1961, quando Miriam Alejandra Bianchi nasceu, no bairro de Villa Devoto, capital Buenos Aires. Essa que o jornalista americano naturalizado argentino Alejandro Margulis conta sem tomar partido específico de um lado ou outro. Ele está ali simplesmente para contar a história de alguém que, somente querendo exercer a vocação por anos reprimida, mudou para sempre a própria história da música tropical e nela reivindicou os mais básicos direitos femininos: o de não sofrer o machismo imposto pelos homens naquele universo cheio de maldade e patifaria e o amor próprio que até as músicas negavam. Assim como a sociedade.

Com depoimentos de Raúl Cagnin, de José Carlos “Cholo” Olaya e do próprio Toty Giménez, Margulis disseca, como um cirurgião dedicado, cada pormenor da vida daquela tão fascinante e mítica figura, mostrando uma Gilda até então realmente pouco conhecida dos fãs: um ser humano como qualquer outro, com seus defeitos, seus desejos, suas vontades, seus dilemas, mas, acima disso, alguém que não desistiu de seus sonhos mas ao mesmo tempo, não queria abrir mão de si mesma. Muito menos de seus filhos, que para ela vinham em primeiro lugar.

A partir do momento em que se começa o livro, não há como largar, mas ao mesmo tempo, é difícil querer terminar, pois, mesmo sabendo o fim da história, realmente desejamos que a personagem esteja ali para que possamos abraçá-la e dar todos os parabéns por ter conseguido manter-se incólume em seu caráter nesse caminho difícil que ela teve de percorrer. Igualmente queremos abraçar o autor por ter se empenhado tanto em nos contar essa bela história. Que certo modo continuou em 2016, quando Margulis publicou Santa Gilda, su vida, su muerte, sus milagros. Mas isso é assunto para outra postagem.

Caminho esse que Alejandro Margulis descreve com todos os detalhes possíveis e imagináveis, deixando qualquer leitor espantado com como as coisas funcionavam naquela época. Uma produtora que mais parecia uma fortaleza, um empresário musical com uma folha corrida digna de um bandido, mas procurado por incontáveis moças sonhando em fazer carreira na música, músicos vindos de várias partes da América e um monte de outras coisas que fizeram eu me perguntar como Gilda conseguiu manter sua essência. Porque, a medida que vamos lendo, fica impossível não pensar que tudo podia ter acontecido, ainda mais quando, depois de uma forte desavença, a cantora deixou de ser “empresariada” por “El Cholo” Olaya, que em 1996 seria detido por atirar nove vezes contra o cantor Carlos Chávez Navarrete, que veio a morrer assassinado no ano seguinte. Hoje, ninguém sabe o paradeiro da pessoa, que em 2012 encontrava-se no Chile, mas não se pode negar que ele foi o responsável por Gilda dar seus primeiros passos na carreira.

“Gilda”, nome pelo qual a cantora foi consagrada, veio de um modo totalmente distinto do qual eu havia colocado em meu post anterior sobre ela. Desde menina Miriam gostava de uma personagem de tv ou revista, algo que ninguém até hoje, nem mesmo Margulis, sabe ao certo, e apelidou-se como “Shyll”. A confusão na pronúncia do nome fez Olaya decidir-se a chamá-la “Gilda” e assim começava o nascimento de um fenômeno.

Esse que nasceu em meio a todas as adversidades proporcionadas pelo mundo da fama e da música, tarefas domésticas, convivência com os filhos, familiares e amigos. Belamente, eu diria quase poeticamente, descritos por Margulis, que em nenhum momento tem realmente voz ativa nessa trama tão real. Todo o livro é narrado pelos depoimentos de todos aqueles que viram Gilda nascer, viver e ir-se, em especial de Raúl, o primeiro e único marido da cantora, pai de Mariel e Fabricio, os filhos pelos quais a cantora foi em busca de um futuro melhor no mundo musical.

Corrigindo mais um equívoco do meu post anterior sobre a cantora, Gilda casou-se em 1984 e no ano seguinte tornou-se mãe pela primeira vez e dois anos depois veio o segundo filho. O que torna o falecimento da cantora ainda mais triste, pois infelizmente a filha mais velha faleceu junto da mãe com apenas onze anos de idade enquanto o mais novo, na época com nove, sobreviveu para carregar eternamente o trauma de ter perdido a mãe, a irmã e a avó de uma só vez, sem contar que o próprio quase morreu no acidente que vitimou metade de sua família. Tanto que não se tem qualquer depoimento de Fabricio Cagnin no livro. Compreensível, se me perguntarem.

Um terceiro equívoco a ser corrigido e aqui eu trago até um pouco de polêmica, é o fato de que, no decorrer da publicação, descobre-se que Toty Giménez nunca chegou a qualquer termo amoroso com Gilda, o que muitos alegaram por anos, embora ele nunca negue que tentou muito. Ela, porém, tinha mais com o que se preocupar. No caso, seus filhos eram sua maior preocupação, ainda mais quando a separação do marido, inicialmente, não correu em termos muito amigáveis devido a busca de Miriam pelo sucesso. O que poderia ter feito o marido requerer a guarda das crianças. Ainda mais quando ainda hoje muitas mulheres são criticadas por correrem atrás do sucesso em detrimento do que a sociedade considera aceitável.

Gilda, la abanderada de la bailanta é, por fim, um livro que merece ser lido e apreciado por todos aqueles que buscam compreender como funciona os mecanismos do mundo artístico e também inspirar muitos a não desistirem de seus sonhos, mas também não se perder no caminho para a realização.

Professora desempregada, leitora voraz, escritora doida e vampiróloga amadora.
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